Entrevista a Paula Varanda, mordoma da festa das solhas

No âmbito da disciplina de história e geografia de Portugal e seguindo o tema aglutinador do plano anual de atividades - "o Mar", os alunos do 6ºA estão a desenvolver diversos trabalhos de pesquisa que pretendem divulgar o melhor da nossa pesca. Aqui fica a entrevista do Manuel Varanda


Manuel – Boa tarde. Eu sou o Manuel e estudo no 6º Ano, na Escola EB2,3/S de Caminha. No âmbito da disciplina de História e Geografia de Portugal, tenho que fazer um trabalho sobre a famosa Festa das Solhas, em Lanhelas. Como sei que este ano (2011) foi mordoma da festa, gostava de lhe fazer algumas perguntas, para ficar a conhecer melhor esta tradição. Começava por lhe perguntar, porque foi mordoma?

Paula – Já é a terceira vez que fui mordoma. Mas convém explicar como é feita a escolha dos mordomos. Cada mordomia é constituída por 8 jovens, mais ou menos de 14/15 anos, e por 8 mordomos homens casados, que depois contam com a colaboração das suas esposas. A mordomia de cada ano nomeia a do ano seguinte, de entre os habitantes da freguesia. Contudo, há pessoas que são nomeadas, mas não aceitam fazer a festa. Por esse motivo, e porque há cada vez menos gente a viver em Lanhelas, há casais que têm de repetir a mesma. Foi o que me aconteceu. Já fiz a festa quando era solteira, fiz como casada no ano de 1998, e este ano voltei a repetir, pois as tradições não se podem deixar acabar.
Manuel – Tendo em conta que a festa só se realiza em setembro, quando é que começam a trabalhar?
Paula – Normalmente começa-se em dezembro. É nesta altura que se iniciam os primeiros contactos com os grupos musicais, as bandas de música, os pirotécnicos, etc. É também neste mês que se anda pela freguesia a cantar os reis e a vender rifas para um cabaz de natal. É preciso angariar muito dinheiro, para a festa se poder realizar. Nos meses seguintes, costuma haver reuniões semanais ou quinzenais, para decidir o programa da festa, para elaborar os contratos com os intervenientes da animação, e assuntos pontuais, que é necessário resolver.
Manuel – Mas, se esta é a conhecida festa das solhas, quando é que começam a tratar delas?
Paula – Isso é só em julho, pois é nessa altura que a sua pesca é permitida.
Manuel – Para ter uma ideia, que quantidade de solhas se consome na festa?
Paula – Este ano venderam-se cerca de 800 quilos.
Manuel – E como se vendem? Frescas? Secas?
Paula – Tanto se vendem frescas como secas, mas a tradição são as secas. Posso dizer, que este ano, foram vendidos cerca de 700 quilos de secas e 100 de frescas.
Manuel – Qual é o processo de secar as solhas?
Paula – As solhas têm que se arranjar/limpar (tirar a tripa). Depois têm que se salgar, durante cerca de 12 horas. Após estarem no sal, têm que se pôr em água, mais ou menos metade do tempo que estiveram no sal. E por fim, vão para o fumeiro, onde são secas ao fumo. Aqui permanecem entre um a dois dias, mediante o tamanho da solha e a quantidade de fumo.
Manuel – E arranjam-nas todas ao mesmo tempo?
Paula – Não. Vão-se arranjando conforme os pescadores as apanham. Havia dias que nos traziam 50 quilos, outros 20, dependia.
Manuel – Então é um processo que demora algum tempo?
Paula – Sim, a avaliar como decorreu este ano, começamos a tratar das solhas no início de julho, e só acabamos em final de agosto. Todos os dias, e mais que uma vez por dia, era necessário ir ao recinto da festa, fazer alguma coisa: ou arranjá-las, ou tirá-las da água ou do sal, ou ver se o fumo estava ativo, ou pô-las a secar…
Manuel – E depois de secas, o que lhes fazem?
Paula – Depois de secas, vão para o congelador. Assim, nos dias da festa, é só fritá-las em azeite, e estão prontas a comer.
Manuel – Resta-me agradecer a sua explicação, e aproveitar a oportunidade para convidar toda a gente a vir a Lanhelas, no primeiro fim de semana de setembro, para provarem esta especialidade. Muito Obrigado.

ENTREVISTADOR: Manuel Lages Varanda – 6ºA Nº15

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