Colóquio | 150 do nascimento de Luciano Pereira da Silva

 
Passados 150 anos do nascimento de Luciano Pereira da Silva, a Eb/S de Caminha assinalou a data organizando um colóquio comemorativo, decorrido ao longo dos dias 21 e 22 de novembro. Galeria de fotos

Idealizado por uma equipa de professores desta escola, liderada por Paulo Bento, apoiado por Agostinho Oliveira e Fernando Borlido, este evento associou também a Câmara Municipal de Caminha, o Centro de Formação de Professores do Vale do Minho, docentes da Universidade de Coimbra, da Universidade de Lisboa, da Universidade do Porto e do Instituto Politécnico de Viseu, o diretor do Centro Ciência Viva de Constância e ainda familiares descendentes de Luciano Pereira da Silva. 

Num primeiro momento, decorrido a 21 do corrente, os participantes apreciaram os trabalhos desenvolvidos pelos alunos da Eb/S de Caminha, no âmbito da astronomia náutica, seguindo-se a inauguração da exposição bio-bibliográfica, integrando a Livraria Luciano Pereira da Silva, pertença da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, formalmente apresentada pelo professor Carlos Tenreiro, bem como algum espólio trazido por familiares e outros. 

Neste dia decorreu ainda o lançamento da reedição do livro "A Astronomia dos Lusíadas", numa versão fac-símile, com anotações do seu autor, Luciano Pereira da Silva, terminando esta jornada com a estreia da peça de teatro "Novo Céu" de António Roma Torres, descendente de Luciano Pereira da Silva, encenada pelo Centro Dramático de Viana do Castelo / Teatro Noroeste. Marcante neste ato comemorativo pela lembrança de Luciano, esta peça evoca também a Caminha de então, sendo parte da história decorrida nesta Vila. 

O segundo dia deste colóquio integrou comunicações divididas em três painéis que fizeram o retrato histórico factual de Luciano Pereira da Silva, numa visão de contributo para a ciência, a política, e a sociedade em geral. 

Os trabalhos foram iniciados em sessão solene com as palavras da presidente da CAP do Agrupamento de Escolas do concelho de Caminha, professora Maria Esteves, que frisou o papel da escola na preparação deste colóquio, prolongado no tempo, permitindo somar já quatro anos de realização da semana de astronomia Luciano Pereira da Silva na escola, com observações dos astros, exposições, concursos, poesia, música, construção de instrumentos astronómicos, etc, sempre afirmando o sentido territorial das aprendizagens dos alunos (terra, paisagem, pessoas) que se procura integrar no projeto educativo. 

Também para o professor Jorge Oliveira, do CFVM, este colóquio traz à liça a importância de um currículo, e atividades escolares, que valorize a região, trabalhando-se com  os alunos temáticas de interesse, com identidade e história das gentes locais.

Os contributos de Luciano Pereira da Silva para a afirmação do conhecimento científico português à época dos descobrimentos, interpretando toda a informação científica contida em “Os Lusíadas”, e a importância deste trabalho de investigação histórico científica nos inícios do século XX, ficaram expressos logo no primeiro painel, quer pelo Professor Henrique Leitão, quer pelo Dr. Máximo Ferreira.
O primeiro, um proeminente investigador de história da ciência, e o segundo um dos maiores divulgadores da ciência em Portugal. Na sequência do colóquio, no segundo painel, atestou-se parte do trabalho de Luciano Pereira da Silva, em particular na aquisição de modelos geométricos essenciais às aprendizagens na Universidade de Coimbra, e feito todo o enquadramento histórico do sistema educativo de então até à data, surgindo a visão pedagógica de Luciano Pereira da Silva, afirmada na sua intervenção política. 


Neste quadro contaram-se as intervenções da Professora Carlota Simões, da Universidade de Coimbra, e do professor Agostinho Oliveira, da EB/S de Caminha. Dos oradores percebeu-se que Luciano Pereira da Silva detinha saber, mas igualmente ideias para o partilhar e desenvolver, mesmo num país conturbado politicamente e pleno de reformas educativas. Soube no seu tempo prevenir e apontar diretrizes a um ensino eficiente e estimulante para os alunos, independente do grau de ensino. O último painel juntou na mesma mesa a Professora Ana Patrícia Martins (IPV), o Professor Armando Malheiro da Silva (UP) e professor Paulo Bento. De Luciano Pereira da Silva revela-se a intervenção no campo particular dos seguros de vida (matemática actuarial), a sua ligação a Sidónio Pais, para além de serem conterrâneos, e a sua história de vida. 
Luciano Pereira da Silva nasceu em Caminha  a 21 de novembro de 1864. Cedo fica órfão de pai mas tal não o impede de seguir estudos, chegando à Universidade de Coimbra aos 15 anos, depois de estudos no Porto. Segue então para a Escola do Exército, regressando novamente a Coimbra, onde aos 25 anos era já doutorado em Matemática (1889).

Foi deputado na monarquia, de 1901 a 1904, pelo Partido Regenerador, e Governador Civil de Coimbra, de 1909 a 1910. Catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, foi ainda astrónomo do Observatório Astronómico da Universidade e diretor da Escola Normal Superior de Coimbra.

Nos últimos 10 anos de vida investigou e publicou sobre a história da astronomia náutica e o papel dos portugueses enquanto detentores de conhecimento científico promotor do sucesso das descobertas. De descanso em Caminha, onde entretanto havia adquirido casa (atual Design & Wine Hotel), é esfaqueado em pleno Terreiro, vindo a falecer a 18 de agosto de 1926. 

Ficará conservada a sua memória nos diferentes domínios do saber, em particular na matemática e na astronomia náutica, e ainda na capacidade de interpretar a ciência e de a articular na interpretação da realidade. 

Em “ A Astronomia dos Lusíadas”, Luciano Pereira da Silva faz uma demonstração clara de que  ‘Camões tinha um conhecimento claro e seguro dos princípios da astronomia, como ela se professava no seu tempo’ (cit. Portal do Astrónomo). 

Ciente da importância temática e da figura, a Câmara Municipal de Caminha, pelo seu presidente, encerrou este colóquio na esperança de um “novo céu” para os horizontes caminhenses, reconhecendo que o papel da escola se afirmou de forma ímpar na organização deste colóquio comemorativo, ao qual não deixou de associar o município, porque o contributo dado para manter vivo o conhecimento de Luciano Pereira da Silva é uma expressão de compromisso com a formação das crianças e jovens, de identidade e de integração curricular.


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