À CONVERSA COM… GENTES DO MAR

PROJECTO TEATRAL “MAR ETERNO” – HOMENAGEM AOS PESCADORES

Se há momentos bonitos numa sala de aula em que os alunos revelam tanta admiração e respeito, um foi este - vivido no dia 11 de Fevereiro, pelas 10.30min, na EB2,3/S de Caminha com a turma 9ºD. Foi um desenrolar de memórias do nosso convidado… Mas vou deixar os alunos “falarem”.


“O professor Pedra veio acompanhar o senhor José Cunha, pescador, que nos contou um pouco da sua vida. O senhor José Cunha nasceu a 27 de Abril de 1936, é casado com a senhora Ana Rebaldim ou Ana da Quinta, como é mais conhecida no mercado de Caminha, onde trabalha com a sua filha, Mabília. Vive na rua que dá acesso à lota, em Vila Praia de Âncora. Confidenciou-nos que o mar está de alguma forma ligado à família. Filhos e netos seguem as pisadas do avô.” (Joana Alves)

“Eu nasci no mar e hei-de acabar no mar”, são palavras do pescador José Cunha”. (Rita Soares)

“Desde muito cedo começou a trabalhar no mar – 13 anos, foi muito bom aluno e tem a alcunha de «Velho Matemático». Até aos 17 anos, trabalhou sempre em pequenos barcos de pesca, passando depois a trabalhar na pesca do bacalhau.” (Clara Bento)


“Em 1954 foi para a pesca do bacalhau. Trabalhou treze anos em vários navios da pesca do bacalhau. A maior parte dos jovens da sua geração, vindos de todos os pontos do país, iam para a pesca do bacalhau para fugir à tropa e, posteriormente, à guerra do Ultramar. No seu caso, como era pescador, juntou as duas coisas e assim trazia dinheiro para a família.” (Joana Alves)

“Realizámos também algumas perguntas das quais obtivemos respostas bastante diferentes da actualidade, pois quando perguntámos como era a vida no navio, o Sr. José Cunha disse-nos que se houvesse escravatura era o nome indicado. Quando o «navio estava de capa», ou seja, havia mau tempo, aproveitavam para descansar, comer, jogar às cartas… mas quando o tempo permanecia estável trabalhavam até à exaustão, aproximadamente 48 horas. Afirmou que «os cozinheiros não faltavam com alimentação, mas muita era deitada fora por ser de má qualidade. Cozia-se pão, mas só se dava um pão por dia a cada pescador e, esse, já tinha três ou quatro dias».” (Ana Rita Pereira)


“Andava durante seis meses, mas chegou a estar num barco nove meses. Só se abasteciam uma vez, em S. Jones. As suas profissões nos navios foram as de empregado de convés, a de redeiro e posteriormente mestre-redeiro. O ordenado base no inicio foi de 600 escudos (três euros).” (Joana Alves)
“No decorrer da conversa surgiram alguns vocábulos desconhecidos, mas foram esclarecidos, como por exemplo o significado de …” «dóris» – pequeno barco, apenas para um pescador, onde apanhava o bacalhau e «amanhar» que significa arranjar o peixe. (…) Contou nos como eram as despedidas quando os barcos partiam, pois as mulheres soltavam lágrimas com medo de que os maridos não voltassem para casa.” (Rita Pereira)

“Já teve bastantes barcos, os quais tinham o nome de “Ana Maria”, “Stº António”, “Novo Dia”, “Vida Continua” e agora tem um chamado “O Caixa”, este com uma alcunha dele, do seu pai e da sua família.” (Susana Saldanha)

“José também nos disse várias frases relacionadas com a pesca e a religião (fé): «Vai na hora de Deus», quando se lança as redes e tira-se o boné; «Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo», no primeiro peixe na rede; «Salva-nos Deus» e «Venha com Deus», saudação de um barco a outro.” (Daniel Capitão)


“Os barcos pequenos só navegam até onde se vê terra, mas existia um ritual bastante interessante: a primeira vez que o barco passava por Santa Tecla, o mestre subia o monte e deixava a sua marca. As marcas passavam de geração em geração e identificavam o pescador ou a navegação. Muitas coisas ficaram por contar e por saber. No entanto, foi sem dúvida uma conversa riquíssima, tanto em termos de vocabulário novo, sobre as lides marítimas e tudo o que envolve a pesca e o mar, como a própria história do senhor José Cunha que nos dá uma grande lição de vida! Obrigada pelo seu testemunho e pela sua companhia.” (Joana Alves)

Estas conversas têm como finalidade construir um texto dramático, para o projecto “Mar Eterno – Homenagem aos Pescadores”, a apresentar no final do ano lectivo, em homenagem aos pescadores. Todos aprendemos quando conversamos com “gentes do mar”! Um obrigado muito especial ao professor José Avelino Pedra, que apresentou e acompanhou o nosso ilustre convidado.
O Professor de Expressão Dramática

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